Depois de virar um bom jogo para PlayStation 2 em 2004, os Transformers retornam aos joysticks e mouse para a ocasião do blockbuster de Hollywood. Regra em títulos vindos de filmes, a qualidade do jogo não passa do mediana, mas o que deixa triste é a impressão de oportunidade perdida, pois o jogo mescla fórmula de muitos games famosos, mas põe a perder com um controle de pouca fluidez.
Menos que os olhos vêem:
Transformers: The Game mistura combate, ação veicular e exploração. Tudo é muito rápido e barulhento, como no filme, e essa ação explosiva é sua principal qualidade. Mas o jeito travado e trôpego arruína a experiência. É um estilo similar ao de Hulk: Ultimate Destruction, em que quase tudo pode ser destruído.
A premissa é a mesma do cinema, mas o roteiro,no mínimo, é diferente. Ele conta a batalha entre Transformers do bem e do mal, representados pelos Autobots e os Decepticons. Eles são seres mecânicos dotados de consciência e brigam para encontrar a AllSpark, a fonte de vida dessa raça. O objetivo dos Autobots, chefiado por Optimus Prime, é impedir que o grupo liderado por Megatron ponha as mãos no artefato e transforme todas as máquinas da Terra em seus soldados, dizimando toda a humanidade. De maneira geral, o game complementa o longa, mas a narrativa muda quando se trata de situações que se passam no cinema, provavelmente para não estragar a surpresa.
Na tela inicial, o jogador pode optar pelos episódios dos Autobots ou dos Decepticons(é só selecionar o lado que querer e jogar). Ao iniciar o jogo de fato, vem à mente títulos como o já citado "Ultimate Destruction", e, por conseqüência, "Grand Theft Auto". Mas isso é mais fachada, pois, apesar de haver liberdade, o jogador tem acesso a uma pequena parte do mapa por vez. Nessa exploração, o intuito é encontrar itens secretos.
Alcançando os círculos verdes, ativam-se as missões essenciais, aquelas que dão prosseguimento ao roteiro. E logo começam a surgir os primeiros problemas: a pouca variedade dos objetivos. Quase tudo se limita a perseguir inimigos, derrotá-los, destruir certas estruturas ou chegar a algum lugar a tempo. As missões alternativas são ainda menos inspiradas.
Metal retorcido:
O personagem depende da fase, mas não há muita diferença entre eles, pois todos possuem praticamente os mesmos movimentos. Cada robô tem duas armas de fogo e golpes corpo-a-corpo, que geram até uma seqüência de três ataques. As armas são relativamente potentes, mas quase não servem para infligir danos aos inimigos: os oponentes médios em diante conseguem se defender dos disparos. Nesse caso, o jeito é contar com as mãos, usando repetidamente o mesmo golpe. Outros oponentes requerem que você arremesse objetos, e isso não falta. Se a idéia não é destruir o cenário outra opção é usar parte dele como arma, seja contêineres, grades, postes ou carros. Aliás, algumas situações chegam a ser ridículas, como a dos prédios que praticamente desabam com um mínimo toque. O caos se completa com a chegada das forças humanas, com tiroteio para todos os lados.
Veículos costumam ter papel importante nesse gênero e a regra permanece. A diferença é que ninguém precisa roubar ou comprar os meios de transporte, afinal, você é um Transformer. Com o toque de um botão, os personagens se transformam nos mais variados veículos. No controle dos carros, a inspiração parece ser a série "Burnout", com grande velocidade e destruição para tudo quanto é lado. O tráfego é eliminado com tiros ou com batidas. Os controles são simples e eficientes,se não fosse os postes, por exemplo, que praticamente param os veículos mais leves. E irrita que muitas ruas sejam estreitas e alguns obstáculos fiquem nos locais mais impróprios. Também não ajuda muito o fato de o jogo ser escuro.
Na forma humanóide, os controles pioram. O estilo trôpego até pode ser proposital, para tentar passar a impressão de controlar máquinas gigantes, mas a experiência é ruim. A trava de mira não funciona direito e é lento demais para escalar prédios. Mas o que mais irrita é ficar preso num lugar apertado, onde, invariavelmente, a câmera se posiciona num lugar em que não se tem a mínima noção de onde você está(chamado e conhecido como perda de foco ou câmera livre).
Autobots rodando e Decepticons lutando:
A missão dos Autobots é menos divertida que a dos Transformers do mal. Num jogo baseado em destruição, o jogador é penalizado se causar danos aos humanos. Assim, os objetivos ficam ainda mais repetitivos para a turma de Optimus Prime. O poderoso líder, aliás, é colocado em muitas missões de perseguição, desperdiçando seu poder ofensivo. Os Decepticons se livram dessas amarras, pois a destruição é o seu objetivo. As missões também são mais divertidas e os personagens são variados: Starscream,Blackout e Megatron podem voar. Scorponok pode cavar túneis e provocar muito caos.
Mesmo com duas "campanhas", o jogo é curto, com duração de cerca de seis horas. Há itens para coletar, que liberam extras (como imagens na galeria), mas isso não aumenta muito a vida útil. Somente as "skins" que deixam os personagens com o jeitão do desenho animado da época da primeira geração têm alguma coisa de interessante.
A produção de "Transformers: The Game" é caprichada, mas peca em coisas de compreender. Há muitas cenas feitas em computação gráfica esmerada (ainda que bem longe da qualidade do cinema), mas a pouca qualidade da compressão estraga a experiência. Dentro do jogo, há dois momentos. Se os personagens principais ostentam bom nível de detalhes, reproduzindo com bastante fidelidade os modelos do filme, os cenários soam meio genéricos e simplísticos. Mas, no meio da ação desenfreada, isso não deve ser muito notado. As animações da transformação não são perfeitas nem vistosas como no cinema, mas ainda agradam.
A edição para Xbox 360 é a que possui melhor visual, seguido de perto pelo PlayStation 3, que tem menos efeitos de luz. O Wii vem a seguir, que perde principalmente nos detalhes do cenário e, por último, o PlayStation 2. A qualidade do PC depende, como sempre, da potência do computador e principalmente da placa de vídeo, mas Transformers não é um Game muito leve. Enfim, a diferença não chega a ser gritante nas plataformas similares e todos eles sofrem com fluxo de tela mais baixo que o desejável. No quesito controle, o PlayStation 3 usa o sensor para comandar os aviões e no Wii se pode fazer gestos para ativar os golpes.
No departamento sonoro se destacam as dublagens: os principais atores do filme reprisam seus papéis (não que isso acrescente ganho de interpretação, mas ao menos mantém a autenticidade, nesse caso) e as vozes originais de Optimus Prime e Megatron. A trilha musical e a sonoplastia são básicas. A filosofia é fazer muito barulho.
Mantendo a escrita:
A impressão que se tem de "Transformers: The Game" é que poderia ser muito melhor. A história e a mecânica de jogo são rasas, mas tem barulho e ação intensa. Porém, os controles travados arruínam a experiência. Talvez esses defeitos não incomodem aos fãs (ou, ao menos, os que toleram), mas quem apenas está procurando por um bom jogo de ação é melhor esperar algo mais consistente.
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